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blogue editado por José Marques Mendes e Luís Luz

23 de maio de 2012

Estamos sem tempo

Estamos sem tempo para nada. Essa parece ser a grande conclusão que se tira nos dias de hoje, quer na vida pessoal quer na das empresas.
É verdade que devemos atuar com rapidez e de forma energética, com determinação e rumo tentando chegar rápido onde se quer. Assim se compete e assim de ganha mas para isso é fundamental tempo. Mesmo que seja um recurso escasso, é um recurso. O tempo é um meio e não um fim. O tempo é um indicador de performance e não um objetivo.

Devemos desafiar dizendo:
- temos de conseguir isto e aquilo, perguntando-nos que tempo temos.
Se o tempo disponível não se adequar ao objetivo, ou se ajusta o objetivo ou se alocam outros meios.
Em liderança, o líder precisa desse tempo. É um tempo que ele usa como recurso para gerir as suas equipas.
Existem empresas que queimam líderes porque não usam o tempo como recurso. Acho que nem gerem o tempo.

Reparemos no Sporting. Queima treinadores sucessivamente porque em curto tempo acha que "já não vão lá".
Os treinadores e o Sporting vêm no tempo um obstáculo e não um recurso.
Curioso! Logo o Sporting que passa anos sem ganhar nada avalia treinadores numa questão de meses. Tem tido tanto tempo e desperdiçado esse tempo a fazer asneiras, não desportivas mas de liderança.
Aposta na famosa "chicotada psicológica" mas isso é um fenómeno de curto prazo e deve ser usado apenas em situações extremas.
O Sporting, estupidamente, faz da "chicotada psicológica" um meio.
O Sá Pinto parece que mudou o clima de vitória da equipa e parece que a medida sobre o Domingos foi acertada. Se calhar, muitos acharam uma perfeita estupidez mas estão a dar o benefício da duvida.

Desenganemo-nos. Foi mesmo mais um erro brutal.
O presidente, por razões que não desenvolvo aqui, decidiu mal. Foi igual a todos os outros. Não deu tempo ao líder e isso é uma brutal injustiça a quem está a iniciar um trabalho para anos.

Líderes como treinadores que dependem da caneta e do cheque de outros líderes, vivem no fio da navalha. Precisam de mais respeito.
Creio sinceramente que o Domingos deveria ter tido mais tempo e deveria ser o presidente a garanti-lo.
Não sucedeu e agora?
O Sporting não ganhou nada este ano e o Sá Pinto não chegará ao final da temporada 2012. Queimará outro treinador e a organização é que sofre.
Ou seja, líderes fracos são presidente fracos, fazem fraca a forte gente e as organizações não prosperam.
José Marques Mendes

14 de maio de 2012

Líderes, chamem um médico!

Não posso deixar de partilhar um momento arrepiante que tive este fim-de-semana. Encontrava-me em conversa descontraída com uma pessoa de elevada responsabilidade na vida do país e, por isso, as minhas atenções eram enormes.

A certa altura do que ouvia, as palavras foram estas:
“Como é possível que empresários tão inteligentes deixaram as empresas chegar a este ponto? Deixar chegar as empresas a níveis incomportáveis de dívida e quedas abruptas de vendas e resultados. Têm meses de salários em atraso sem uma luz ao fundo do túnel. Empresários tão experientes, que construíram com determinação e coragem os seus negócios, não foram capazes de perceber que os mercados ruíam. Não fizeram nada para além de pensar que o dia seguinte ia ser melhor."
E continuava.
"Para muitos agora é tarde. Agora só resta uma coisa – fechar as empresas já que os níveis económicos e financeiros dessas empresas são surrealistas.
Para outras, têm de se reestruturar já. Se não fizerem nada e já, dentro de 3 meses estão pior e dentro de 6 estão a fechar.”

Este foi o momento que me tocou mais:
"Se não fizerem nada e já, dentro de 3 meses estão pior e dentro de 6 estão a fechar."
O timing de 6 meses pareceu-me hoje. Imediato.
Eu que vinha ouvindo apreensivo, nesse instante senti luz. Senti oportunidade. Senti futuro.

É que, se os empresários, líderes de empresas, assumirem com humildade que o tempo mudou, que os métodos têm de mudar, que a forma de liderar é outra e que os planos de ação têm de ter outros propósitos, então há esperança.

O que é preciso para isso?
É preciso que os empresários e líderes de empresas peçam ajuda. Tão simples quanto isso. Que peçam ajuda como quem vai ao médico pedir ajuda para a sua saúde. Que encarem a empresa como um paciente, como um ser que está debilitado e precisa de se reestabelecer.

Chamem um médico e não tentem curar-se sozinhos, automedicando-se.
É um erro, pessoal e empresarialmente.
Porém, um conselho:
Da mesma forma que ninguém vai ao médico pedir ajuda a dizer que ajuda precisa (não se pode dizer ao médico que se quer ser operado a isto ou aquilo ou que se quer este ou aquele tratamento - ele é que diagnostica e diz o que é preciso), também os empresários e líderes de empresas não podem pedir ajuda a dizer o que querem (não digam que o que precisam é de dinheiro ou de encomendas ou de novos clientes porque, até pode nem ser isso).
Até pode nem ser!

José Marques Mendes

9 de maio de 2012

Homem do Leme

Liderança sem diploma representa o poder que cada um tem de orientar a sua vida. Se a vida é sua então deve assumir a responsabilidade de a conduzir.
Ser o Homem do Leme.
Um despedimento, aparentemente, contradiz esta ideia. Então se estamos a fazer o melhor, comprometidos e sérios, empenhados e energéticos, motivados e a motivar, porque nos pedem para sair se não queremos sair.
Mesmo que não tenhamos errado ou discordado de algo, pedem-nos para sair.
Mesmo que tenhamos um bom plano de trabalho e aceite por todos, pedem-nos para sair.
Mesmo que as pessoas que lideramos, se sintam bem e a respirar iniciativa, pedem-nos para sair.

Um contrassenso, parece. Mais ou menos. Talvez nem seja.
Devemos pensar que este ato – despedir – não altera em nada o sentido de liderança que cada um tem de ter para si e para a sua vida.
Mantemos o domínio do nosso curso mas, atenção, temos de considerar a imprudência de terceiros. Temos de considerar a movimentação de terceiros. Mesmo liderando a nossa própria vida, não estamos, nunca, sozinhos em nada.

Reparemos na analogia.
Para obter a carta de condução praticamos com muito afinco, estudamos as regras e passamos nos exames. Passamos a conduzir com atenção, respeitamos tudo e todos mas, eis que um dia embatem em nós. Afetam o nosso curso e o controlo que tínhamos da situação.
Ficamos furiosos, tomamos consciência da chatice, queremos explodir de insatisfação e raiva mas, numa fração de tempo, apercebemo-nos que não há nada a fazer. Alguém se achou capaz de interferir na vida dos outros, na nossa vida. Alguém, por imprudência ou incompetência na condução, criou-nos uma chatice.
Enfim, assina-se a declaração para o seguro, relativiza-se o assunto (poderia ser pior) e segue-se o caminho da vida.

Por mais que pensemos que temos o controlo, há sempre algo que interfere. Esse é o pressuposto da liderança porque se admite que liderar é chegar a algo por caminhos desconhecidos.
Entendo que por isso é fundamental e útil que cada um se assuma como um líder. Que assuma a liderança da sua vida porque existem adversidades a controlar.
O despedimento é isso e nada mais. Uma adversidade a controlar.

Em cada função, empresa ou projeto, há que fazer e dar o melhor. Intelectualmente e emocionalmente. Se mesmo assim alguém, imprudente, convencido, materialista, Cavaleiro Negro do Apocalipse, embate em nós, só há que liderar a mudança de rumo. Sem dramas.
Sem autismos mas com muito bom senso, analisar a adversidade e retomar o caminho.
Manter a liderança agarrados ao leme.

Para trás tem de ficar a consciência de um dever cumprido e serviço prestado. Para a frente mais do nosso desígnio. Outras causas há que servir e à nossa vida valor acrescentar.

José Marques Mendes